Trinta anos se passaram, e uma nova sitcom estreou na televisão. Em 1989, Os Simpsons compunham o retrato de uma família cujas agruras eram resolvidas preponderantemente, pela mãe. Dela também faziam parte, três filhos e um pai desacreditado, bonachão e equivocado.
Do papai sabe tudo até Homer Simpson, a paternidade passou por mudanças significativas em sua concepção, consolidadas pelas inovações no campo da reprodução assistida e as reivindicações dos homens pela guarda dos filhos.
Ao longo dos anos, o pai deixa de ser o ator principal e é substituído pela mãe. Como poderíamos entender estas modificações e que impactos elas teriam sobre as novas gerações?
Muitos tem usado a denominação crise para falar destas alterações, eventualmente até um colapso masculino. Depositar o conflito sobre homens, é parte da estratégia de uma sociedade que precisa segregar para avançar.
Por conta disto, a paternidade ficou infantilizada, banalizada ou associada a maternidade. A palavra ''Pãe"", usada para se referir a homens que cuidam dos filhos, é um exemplo disto. Em apenas trinta anos, a paternidade moveu-se de uma posição positiva para uma negativa. Foi criado um manual de boas maneiras para homens, através do qual eles aprendem como deve se comportar diante dos filhos e da mulher.
Há quem pense que o movimento de mulheres tenha provocado este deslocamento. Todavia, a desvalorização da paternidade tem menos a ver com o movimento de mulheres, do que com as mudanças ocorridas nas bases da reprodução humana. Considerar os homens como inimigos, como dizia Simone de Beauvoir, certamente contribuiu para a desqualificação da paternidade e a invenção de Homer Simpson.
Fora destes seriados, temer o pai fazia parte do papel do filho. As mães inclusive, se valiam disto para que a criança fizesse o que elas queriam: '' vou falar com seu pai ''. Distante, o pai deveria ser exemplo de um adulto seguro e parcimoniosamente afetivo. Os homens acreditavam que deviam seguir este protocolo, tomando-o como verdade. Todavia, a paternidade transcende a dimensão individual pois situa cada indivíduo em um eixo geracional.
A partir dos anos 60, a imagem paterna começa a ser relativizada. De durões eles são transformados em bobões. A mudança pela qual passou a paternidade teve por base, inicialmente o afastamento do sexo da reprodução , e posteriormente a invenção da reprodução sem sexo. Nesta segunda, precisa apenas do sêmen e de um médico. O homem deixa de ser pai. Nos Estados Unidos, uma mulher que resolve ter um filho, vai a um banco de sêmen e na certidão de nascimento da criança, onde deveria constar o nome do pai, lê-se: D.I. (donor insemination/ inseminação artificial).
Liberar o sexo da reprodução, fez com que o prazer sexual surgisse como uma experiencia libertária. Mas também foi uma etapa necessária para que a produção acontecesse fora do corpo, sem sexo, e com eliminação da paternidade. Nesta perspectiva, teremos uma geração de crianças sem pai, e segundo o dito canadense: Père manquant, fils manque, que quer dizer: quando o pai falta, o filho manca.
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