domingo, 8 de dezembro de 2013

Igualdade Perante a Lei

     A lei tem sido parâmetro utilizado pelas sociedades democráticas para afirmar seu principal credo: o indivíduo é o valor. Em torno desta premissa o casamento pode ser repensado, bem como a família e a orientação sexual. Os anos 60 foram marcados por reflexões que até hoje servem como fio condutor para se pensar as liberdades individuais. A idéia de que estabelece que a minha liberdade é a liberdade do outro. Segundo este ponto de vista, a idéia de igualdade chega até do direito e leis são criadas. Homens e mulheres, brancos e outras etnias, hétero, homo e outras identidades sociais são contempladas pelo que até então era apenas direito do homem, branco e heterossexual .


     Quem pode ser casar? Quem deve usar elevador de serviço ou sentar no banco traseiro de um ônibus? Salários iguais para homens e mulheres? Os anos 60, 70 e 80 foram anos de conquista e afirmação do princípio da igualdade a partir dos quais as mulheres conquistaram sua reivindicação, os negros denunciaram o preconceito e homossexuais deixaram de ser considerados doentes pelo Código Internacional de Doenças Mentais, no ano de 1982. Nesta época, a alegria gerada por cada uma destas conquistas não permitiu que se pudesse pensar sobre: '' ficaremos iguais a que exatamente?''


     No mês passado, quando um juiz de Nova Jersey decidiu que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deveria ser legalizado, um homem que vive com outro a dezoito anos exclamou: "wow really" E complementou: "Nós estamos casados em todos os sentidos, isto não vai mudar nada em termos de como nos sentimos um em relação ao outros", disse Blatz que não vê muito sentido em se casar legalmente. 


     Contudo, eles não são os únicos a pensarem desta forma. Nos EUA o casamento entre pessoas do mesmo sexo é lei em catorze estados. Neles, todos tem o mesmos direitos e responsabilidades dos casais heterossexuais. Os casais homossexuais estão correndo para o altar? Não exatamente. Um grande número de casais homossexuais não querem se casar e seus motivos não são tão complexos e pessoais quanto a decisão de se casar.


     Para alguns, o casamento é uma instituição ultrapassada que leva os casais do mesmo sexo a adotarem o padrão que perpassa o imaginário social que criticam. Para outros, o casamento impõe encargos financeiros e complicações legais. Ainda há os que vêem o casamento não como um conto de fadas, mas como uma empreitada difícil para ser administrada que pode terminar em divórcio. E ainda há os que vêem o casamento como algo que vai contra suas crenças do que seja a união entre duas pessoas.


     " O casamento vem de um modelo muito, muito arcaico", disse Sean Fades, 34 anos, um artista de Nova York que foi o único que pediu para ser identificado como gay. " O casamento faz parte do modelo cristão opressivo que diz: ' Escolha uma pessoa que vai ser tudo para você, eles tem que ser perfeito, então, façam uma casa e tenha filhos,  se assim for, você será feliz. 'Muitos casais heterossexuais se sentem da mesma forma'', acrescentou. Afinal, nem todos os casais heterossexuais optam por se casar. Mas os casais do mesmo sexo parecem mais inclinados a serem um bom nicho de mercado para casamento e os serviços que são oferecidos para que ele se realize. 


     De acordo com  uma pesquisa da "Pew Research" divulga em junho deste ano, mais de 50% dos GLBT querem se casar. Mas se o casamento foi visto pelo feminismo como um modelo de opressão em relação a mulher, por que ele estaria sendo bem vindo para este grupo que viveu e vive a discriminação de uma forma sociedade que se apoia sobre a ideia de casamento?  


     A tensão feminista se manteve firme nos primeiros anos do movimento pelos direitos dos homossexuais. Paula L. Ettelbrick, figura de destaque na luta pelos direitos de gays e lésbicas, estava entre as opositoras do casamento entre pessoas do mesmo sexo, apresentando uma visão bem mais ampla acerca do que seja relacionamentos e família. Em 1989 disse ela a extinta Revist Out: " Não quero dar ao Estado o poder de regular o meu relacionamento com alguém". 


     Mas isso foi antes do casamento entre pessoas do mesmo sexo se tornar realidade, pois os estados nortes americanos estenderam os direitos aos casais do mesmo sexo, e em seguida o Supremo Tribunal destruiu a Lei de Defesa do Casamento, conferidos aos casais do mesmo sexo os mesmos direitos e responsabilidades como qualquer outro casal. 


    A igualdade havia sido conquistada, mas se fica igual a que? 


     Mas alguns casais gays vêem o casamento como injusto, desatualizado pois discrimina solteiros. 
     Stephanie Schroeder, 50, e sua namorada, Lisa Haas, 49, que vivem juntas em Bushwick, Brooklyn, disseram acreditar que os privilégios de casamento casais e estigmatiza solteiros. " Eu não quero negar a ninguém o direito de casar-se ", disse Schroeder. Mas eu realmente não o quero pra mim.


     Casar faz parte de uma tradição que não se renova porque os atores são do mesmo ou de sexos diferentes. As mulheres reivindicam igualdade com os homens, os negros com os brancos e os homossexuais com os heterossexuais. A questão é que quando isto acontece, o homem branco heterossexual é a um só tempo o opressor e aquele que serve de modelo para a conquista de novas possibilidades.




     (*) por Sócrates Nolasco. Considerações sobre matéria publicada no N.Y Times, 26 de outubro de 2013.